quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Como acabar com uma raça.


Existem sim várias maneiras de extinguir uma raça. Vou tratar aqui apenas de um aspecto desse processo de extinçao, de algo que vem me tirando o sono. Sabemos que em uma raça de cão, o que importa mais é a tipicidade. E quando falo em tipicidade, não estou me restringindo à cabeça. Um cão de raça tem que ter cabeça típica, estrutura típica, movimentação típica, temperamento típico, e saúde!
Dentro deste universo, cada criador dá preferência ou prioriza os critérios a serem trabalhados. Alguns apenas querem melhorar os cães que possuem, segundo os seus critérios. Outros querem contribuir para a melhoria do plantel nacional, segundo o seu critério. Existem ainda os que pensam grande, que almejam melhorar a qualidade do plantel mundial, seguindo, claro, as suas prioridades e seus critérios.
Respeito aqueles criadores que unem informação, estudo, planejamento e coerência no ofício de criar, mesmo que seus critérios sejam diferentes dos meus, mas não me obriguem a aceitar a fraude, a incoerência ou a ignorância do quintal do lado.
Fazendo um recorte do que coloquei acima, e tocando justamente no ponto que vem me tirando o sono, a ignorância, ou simplesmente a falta de informaçao.
O akita é um cachorro que, quando dentro da tipicidade da raça, apresenta algumas peculiaridades de temperamento que o tornam uma inconveniência para os desinformados. É um cão teimoso demais, que responde aos comandos apenas quando consegue ver uma razão para fazê-lo. É um cachorro anti-social com outros cachorros, não importa a raça e nem o porte. Mas importa o sexo: existe uma chance de a convivência entre casais ser harmônica, desde que alguns cuidados sejam tomados, porém não espere a paz no convívio entre um akita e outro cão do mesmo sexo.
Justamente por isso, a introdução de um novo cão em uma casa onde tem um akita é algo demorado e que precisa de cuidado, conhecimento de dinâmica de matilha e persistência. Quando determinadas regras não são seguidas, acontecem as famosas brigas onde os cães ora saem mutilados, ora morrem.
O akita dentro da tipicidade da raça não gosta de muita intimidade com pessoas que não são do seu convívio. Rosnados e mordidas acontecem com quem força a barra na aproximação. Isso quer dizer que, ou as suas visitas sao muito bem informadas por voce sobre como deve ser a abordagem do cachorro, ou então é mais prudente que voce prenda seu akita durante a permanência das visitas em sua casa.
O akita dentro da tipicidade da raça não deve andar sem guia na rua e deve sempre estar preso nos momentos de tirar e guardar o carro na garagem. Estamos falando de uma raça primitiva, onde os instintos são muito fortes. Por mais que seu akita seja supostamente adestrado, em situaçoes onde ele tem acesso a rua sem contenção, o risco de acidentes acontecerem são imensos. Se seu akita avistar um cachorro e sair correndo atras dele, não adianta gastar saliva e pulmão gritando o nome dele, ele não vai voltar só porque você o está chamando.
O akita dentro da tipicidade da raça é um cão fiel, que quando respeitado é incapaz de atacar o dono, que independente de chuva ou sol ou doença estará sempre no lugar do quintal onde ele consegue ver as entradas do terreno e da casa,
É um belo cão quando bem cuidado e quando corresponde à tipicidade da raça: suas orelhas podem ser médias ou pequenas, desde que corretamente inseridas. Seus olhos podem ser mais ou menos angulados, apresentar diferentes formatos e tamanhos, desde que sejam triangulares. Sua pelagem pode ser branca, tigrada ou vermelha, desde que apresente subpelo denso e sobrepelo abundante duro e espetado. E por aí vai!
E sobre acabar com a raça? Bom, alguns me criticaram por propor a venda de filhotes castrados, justamente usando como argumento que isso acabaria com a raça. Vamos por partes. Em primeiro lugar, um criador nunca realiza um cruzamento sem a intenção de segurar um filhote para si ou encaminhar alguns filhotes para outros criadores. Esses filhotes não castrados, nas mãos de criadores, por si só já asseguram que a raça não vai se extinguir por falta de cães. Vejam bem, estou falando de criadores e não de reprodutores de akita!
E os filhotes não castrados que são comprados por pessoas que não tem a intenção de criar, mas sim querem um guardião e companheiro? Bom, essas pessoas, na grande maioria das vezes por ignorância (lembrando que ignorância é a falta de informação, e não a falta de capacidade de aprender), acabam cruzando seu akita com o akita do vizinho. São cruzamentos não planejados, em locais sem estrutura, e o que é mais grave, sem o acompanhamento de um veterinário ou pessoa experiente em ninhadas.
Existe uma idade correta para realizar a vacinação e a vermifugação dessa ninhada, de iniciar os banhos de sol, de se introduzir água, papinha e raçao, de se cortar a amamentação. Não é simplesmente deixar a natureza seguir seu rumo. Existem questões técnicas de manejo que devem ser seguidas quando temos uma ninhada em casa! A saúde da mãe e dos filhotes é posta em risco por falta de informação. A escolha dos novos donos é mal feita por falta de experiência.
Temos também a geração de “akitas” que não enrolam o rabo, de olho redondo, pelagem rala e baixa, orelhas imensas e em pé... ou seja, são produzidos filhotes que, apesar de lindos aos olhos do dono, estão muito longe de corresponder à tipicidade da raça, e seguindo a premissa acima, de que um cão de raça deve possuir a tipicidade daquela raça em vários aspectos, esses filhotes não são akitas.
Esses proprietários não conhecem o pedigree dos cachorros, linhas de sangue, não acompanham o aparecimento de doenças genéticas nessas linhas de sangue, correndo o risco de fechar o cruzamento em cães que já produziram descendentes doentes e produzir ninhadas inteiras com adenite sebácea, síndrome do akita e outros problemas... aliás, esses proprietários sabem o que é um cruzamento fechado? Sabem da existência dessas doenças?
E os donos dos pais, que só conviveram com 1 ou 2 akitas na vida, por ignorância postulam que os filhotes vão ter o temperamento dos pais, as vezes mais calmo, as vezes mais arredio, e com isso aumentam as chances de esses filhotes caírem em lares de pessoas despreparadas, e acidentes aconteçam, como ataques, fugas, brigas com outros cães, o que pode sim fazer com que a raça adquiria uma fama errada, e comece a sofrer preseguições como sofre hoje em dia o americam pit bull terrier. São constantes as ameaças do poder público em tornar OBRIGATÓRIA a castraçao de todo e qualquer pit bull, o que levaria ao fim da raça.
Concluímos que, em geral, a reproduçao de akita fora da mão de criadores gera cães tão atípicos que eu ouso dizer que não são akitas, com grandes chances de possuírem problemas genéticos, que vão parar nas mãos de pessoas despreparadas provocando acidentes tornando a “raça” mal vista. Ora bolas, existe forma mais eficiente de acabar com uma raça do que essa?
Por outro lado, a reproduçao de cães de raça realizada por criadores, por vezes também gera cães com males genéticos, por vezes os filhotes também vão parar em casas de pessoas despreparadas para possuir um cão daquela raça, e etc. Ou seja, apesar de todo o planejamento, estudo e experiência, nada garante que aspectos negativos da raça não apareçam. Mas esses desvios de percurso não acontecem por ignorância ou falta de responsabilidade! Ficou clara a diferença?
Restringir a reproduçao de cães de raça apenas aos criadores, na minha opinião, é o modo mais seguro de garantir a continuidade de qualquer raça.